Kianda

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Lavra

a palavra
lavra
a infância
lavrada
no nada.
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Érica Antunes

quinta-feira, setembro 06, 2007

Alta definição

Aos oito anos incompletos, Thaylise define:
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__ Cemitério é o lugar onde os mortos vivem.
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...
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E não é que ela tem razão?
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Érica Antunes


domingo, junho 10, 2007

Ciática


A mais recente do tio que poderia ser avô:
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__ Tô com uma dor no nervo asiático...
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Érica Antunes
erica.antunes@gmail.com

sexta-feira, abril 06, 2007

O ciclone

Pérola do meu avô na hora do almoço:
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__ Viram o silicone que passou no Rio Grande do Sul?
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Érica Antunes
erica.antunes@gmail.com

quarta-feira, abril 04, 2007

Estopim

Estoura

as bolinhas de plástico

da embalagem do livro

que acabou de chegar:

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Adora me provocar!
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quinta-feira, março 15, 2007

Quaresmeiras

Elas não são como os ipês, que despejam tapetes. Tão donas de si que me vêm à memória os indicadores da velha para cima e para baixo: cada um é cada um. Pura verdade. E fico olhando o nada no meio daquela explosão de flores, como se assim, sorrindo para o vazio, encontrasse a resposta para tudo.

Quase invejei as quaresmeiras intactas, misturando roxos ao inesperado azul de março. Variei entre gente e bicho. A velha e seus dedinhos e a minha pequenez diante do mundo. Apanhei três florezinhas e guardei no meio de um livro. Um dia, irão parar nas mãos certas. Um dia, amém, essas mãos vão entender a extensão da ternura.

Às vezes, penso nas entrelinhas. E todas as perguntas que me faço no vazio se tornam cheias feito aquele ditado chinês do tambor. O caminho para casa é miniatura da vida: a gente nasce, cresce, envelhece e morre. Excesso de idéias dá nisso e a culpa é das quaresmeiras empetecadas.

Mas que lindas!


Érica Antunes
erica.antunes@gmail.com

quarta-feira, março 14, 2007

Cena urbana


A copeira do prédio ao lado,

de uniforme e penteado,

lava a louça em silêncio.


No gesto suspenso do lápis,

guardo o medo que a mantém

mês a mês, refém do salário.


Érica Antunes