Kianda

sexta-feira, janeiro 26, 2007

O sino

"Toda cidade devia ter um sino"...
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Esse primeiro pensamento a fez interromper todas as atividades e se indagar: "Era normal?"
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Metódica, sim, mas farta de espelho, carecia de um reflexo prolixo de retoque carnal e febril de desejos. Era uma rainha hilsteana cambaleando bêbada para o leito conjugal, dona de partes e pêlos úmidos, carnes intumescidas, boca ardente e pernas lânguidas.
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Fátima quis o sino e não o sono. Um sino grande, de badalo intenso, a dobrar no alto da torre da catedral duas vezes por dia. Duas vezes! Estava enamorada, coberta pelo grito estridente do gozo maior. Sino fálico.

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Quando estivesse no alto da torre, estenderia as tranças para o passante príncipe, imitando a santa homônima, ávida por orações. O ardor, porém, seria concupiscente, herético.
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Até o cheiro metálico, o tato gélido, o gosto hirto se perderiam na ânsia de Fátima. Afinal, seria o homem que, em decúbito ventral, dela faria fêmea, louca e santa.
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Érica Antunes
erica.antunes@gmail.com
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Fonte da imagem:
http://www.flickr.com/photos/claudio_mg/150102447/