Kianda

domingo, fevereiro 11, 2007

Grãos de milho

Eu era ainda muito criança quando experimentei pela primeira vez o significado da palavra humilhação. Fui obrigada a me ajoelhar num monte de grãos de milho, em frente ao tanque de lavar roupas, no fundo do quintal, longe de todo o mundo. E sem chorar, que qualquer resmungo seria suficiente para agravar o castigo.
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Ninguém viu, as dores da minha iniciação no mundo dos grandes foi para os íntimos. Aos cinco anos, tive a certeza de que a vida não era tão bonita quanto eu pensava e que alguns batiam e outros apanhavam.
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Já não era mais o medo do escuro, do bicho-papão, do homem que carregava crianças no saco ou dos ratos que passeavam à noite no porão. Era algo muito mais profundo e dolorido, era o enxergar as injustiças da alma.
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E assim cresci. Mulher, compreendi que muitas dores podem aparecer no meio do nada, bastando um silêncio qualquer para ressaltá-las. E que viver é como passar do método indutivo para o dedutivo sem esquecer do próprio umbigo.
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Percebo essa mudança dia após dia. O que antes representava tanto, hoje nada mais significa. Até com as dores tenho aprendido a lidar de forma mais amena.
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Os grãos de milho, afinal, podem não ter sido tão maus quanto eu imaginava...
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Érica Antunes
erica.antunes@gmail.com

1 Comments:

  • At 10:00 PM, Blogger Rosely Zenker said…

    Clap clap clap (sou eu batendo palmas)
    A gente tem que pegar esses milhos das nossas memórias e fazer pipocas, né?

     

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