Kianda

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

O fim do mundo

Pegou o ônibus errado.
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Constrangeu-se com o olhar do cobrador que perguntava aos próprios botões: "Não vai saltar mais, moça?" Fingiu mascar chicletes – toda vez que se vê em situação vexatória mastiga um chiclete imaginário – e pôs-se a brincar com o chaveiro preso no zíper da mochila.
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Desceu num terminal no fim do mundo.
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Aguardou outro ônibus. Qualquer outro que aparecesse estaria bom, desde que o olhar de reprovação do cobrador – tinha certeza de que ele sabia que ela estava perdida – ficasse para trás.
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Deu a volta na plataforma e entrou. Enrubesceu. Então o ônibus era o mesmo?
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Lá estava o cobrador e seu risinho de escárnio.
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Enrubesceu, mascando o mesmo chiclete e brincando com o mesmo chaveiro.
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O fim do mundo definitivamente ainda não era ali.
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Érica Antunes
erica.antunes@gmail.com