Podia ser uma bandeira...
Como descrever os fatos sem supervalorizar aquele lado um tanto sensível que ela guardava bem dentro do peito, a sete chaves, e que naquele momento insistia em sair pela boca?
Se fosse narrar, começaria: “Podia ser uma bandeira, mas era apenas um pano branco cobrindo um corpo estatelado no chão”.
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Impossível revelar o “de dentro” se o “de fora” gargalha depois da piada sem graça, adora os brincos comprados no camelô e acredita, sinceramente, que a cirurgia plástica é a solução para todos os problemas.
Era fático: um pano branco cobria um homem morto.
Mas o mundo, muito ocupado, não via, ou, antes, via o feio, analisava minuciosamente a queda da motocicleta, a velocidade empreendida, o descontrole.
Todos uns urubus e também ela, que, de repente, teve a paz do cotidiano tingida de sangue.
Depois disso, dizem, virou pedra. E nem carregou bandeira.
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Érica Antunes
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